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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Como pétalas delicadas e saborosas
Para algum paladar suspeito, voraz,
Imperfeito e cheio de malicia
Esse espirito juvenil, ardor de juventude
Pseudônimo mais do que exato
Não desejo de perder
Nem cogito um dia se quer
Tamanha volúpia e força esquecer

Ser irremediavelmente irresponsável
Imaturo e dotado de força sempre
Eternamente anti obliterante
A tamanha decisão
Partir sem o receio
E seduzido por sempre avançar
Seja com os trens, seja querendo abraçar a neve
Conduzido por seres da relva
Tecido de que não me alimento mais

Obrigado espíritos jovens
Almas que nunca perderam a força
Obrigado, Supertramp
Aquela inanição é também alimento
Em alguma jornada parto
Ao rio, viela ou vento
Contra ou favorável
Nunca lhe vi
Nunca irei
Nunca iremos
Mas desse teu emocionado folguedo
Desejo que certas forças nunca nos deixem
Mas caso partam, que uma cauda
Cordão ou barbante deixem algum medo


Eu tinha de escrever algo nessa manhã, mas não consigo encerrar texto algum.
Dessa vez devo ficar com o resto do texto em meus pensamentos. Um pedaço que deixarei passar e nesse pequeno post, nunca deixarei entrar ou me permitirei modificar.



domingo, 28 de agosto de 2011

Texto antes da fome

Sentido-se genial poeta
Cria desgarrada ou
Algum falso profeta
Onde haveria de ser o único
Mas nesse pequeno declive
Por degraus galgado
Muitos já haviam passado

Passaram...

Cárcere privado
Enquanto luz fraca alimenta
Todo aquele ambiente
Deveras nuançado

Entre dobras, mesmo espaço
Mesma folha e diferente quadro
Sendo que se assim
Uma bala em meu peito tivesse atravessado
E da minha vida
Todo meu folguedo levado
E o ar que existe em todo esse mundo
Carregado de oceano desnudado
De certos constrangimentos libertado
Deixo minhas ultimas palavras destacadas
No teu pequeno caderno
Onde confiança quero ter ancorado
E assim parto, de alguma forma incomodado

E por enquanto, ando
Marcho
Por mim fico um pouco admirado

Aos homens, dou dinheiro
Aos cães, alimento
Nem de alimento vivem os homens
Nem de dinheiro vivem os cães
Não em caridade
Sem elevar algum leve espirito
Mas com os ventos ser carregado
Por tormentas ser lavado
E com muitas rimas repetidas
Sorrindo sem cuidado

=)

Nesse absurdo
Tempestuosa existência de sentimentos
Ficamos todos lado à lado
Perfilados em busca de algum cuidado

Famintos e sempre empobrecidos
Mas por amor alimentados
Que só acontece com alguma liberdade
No jugo de vencedores e vencidos
Que sentam-se e são poetas de momento
Julgam-se os gênios da ultima hora
E por toda a eternidade

sábado, 27 de agosto de 2011

Já fui e ainda sou labirinto, hoje, me reconheço também (as vezes) como uma Metrópole.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O escafandro

Da forma como essas gotas de chuva escorrem pela minha janela
Do ar frio que congela sinapses
Queria ser lento e escorregadio como água que escorre pelo corpo
Criando detalhes disformes em uma mistura de reflexo e pele úmida
Aquela gota que serpenteia o braço e fica pendente como uma dúvida
Entre o gotejar e o estar

Se meu corpo, minha vontade e preocupação  não fossem por tantas vezes uma mordaça
Eu dou sussurros em megafones, em caixas de som amplificadas
Em vales e desfiladeiros onde minha voz é um eco
Se meu corpo, minha vontade e preocupação não fossem um oceano
Que ao mesmo tempo que é belo também pode sufocar
É imenso e sem campo de visão suficiente para abraçar completamente
É calmaria e também é tempestade
É a maior parte do mundo
E a mais difícil de ser cuidada

Quando choca-se com as pedras
Quando tomba navios
Quando engole pessoas
Quando amedronta
Quando vira cálice
Quando revolve os continentes
Quando devasta cidades
Quando lava a humanidade
Quando dá origem as mais estranhas criaturas

Sou
Somos oceano
Quando Byron em seus versos
Descrevia o oceano em sua maior riqueza e força de Titã
Não havia Colosso e nem Leviatã
Que não fosse coroado e temeroso de tua força

Oceano, és algo do que sou
Como sou também de ti gota agora em simulacro
Em carcaça bípede
Mas permita-me sempre
Assim que eu te olhar, ser agraciado
E sempre lembrar o que de ti trago
E como aquele senhor caminhante
Trôpego, que Malte descrevia
Em ti encontrarei fôlego e esforço
Para que assim eu te descreva
Em tua capacidade
E toda tua divindade

Texto das despedidas


Salve o fogo.
Acene Adeus ou "Aodiabo".
Pelo que eu já esperava.
Te entrego a bala.
Mas não salve também aquela chama, só vá por aquele vetor.
Sem júbilos, sem bajulações tenha teu encontro.
O gosto agridoce daqueles que se despedem.
Mas é a alegria da passagem, corrida, caminhada ou mármore por demais intenso.
E assim que eu olhar o céu ou respirar qualquer pó, sei que ali, de você haverá centelha...
E lembrarei para sempre do que me disse:
"Se eu pudesse te dar um conselho, as ultimas palavras antes do meu ultimo suspiro eu te diria..."

...

Aquelas palavras serão algo que só eu lembrarei e mais ninguém irá saber.

Páginas

O melhor, mais elaborado e o mais desdenhado personagem era o "Nada".
Que Camus tinha de temer?

Sobre mim, só resta dizer
Ladrões, profissionais e uivos noturnos
Só conheceram uma parcela do que sou
Nem só as minhas palavras são invólucros intransponíveis
Mas do livro que eu sou
Eu sou...
Páginas em branco
Páginas para serem escritas
Páginas que para muitos passam desconhecidas
Páginas que nem mesmo eu sei que existem
Páginas que ninguém ira conhecer
Páginas impossíveis de ler
Paginas que eu mesmo escrevo
Páginas que eu arranco
Páginas que eu deixo pela metade
Páginas que eu vejo e procuro esconder
Páginas e mais páginas
Páginas que me incomodam durante a manhã
Páginas que eu não queria escrever
Páginas que eu não queria ler
Páginas que eu vasculho
Páginas que desejo ler
Ilegíveis
Chaveadas
Belas
Austeras mas com alguns ornamentos
Intermináveis
Encontros
Obras de arte
Obras minhas
Obras de (d)Deus
Obras atrás de obras
Obras da natureza
Obras da noite
Obras do clichê
Obras suas
Obras minhas
Dobras


Mas basta ter a chave certa
Mas nunca terão a chave mestra
Essa eu perdi logo que nasci
A primavera vem nascendo
Chuvosa
Mas a chuva não assusta agora
Ela lava as lâminas, as faces, o solo
Alimenta a vida, tem coisas boas
Mas a chuva precisa cair
É posse doentia
É controle e medo de perder
Pois quando passar
Serei impulso e impulsionado
Propulsão como sempre acontece
A ira e a felicidade ladeiam
A tristeza e a impetuosidade são sítio
E saboreio tudo isso

Tudo que fiz e ainda faço foi para não cair na loucura
Você sempre me disse :
"Você não deve enlouquecer."
Mas a platéia espera sempre algo
Platéia com casa lotada
Platéia com um(a) único(a) espectador(a)
Não perder a admiração, jamais
O admirável é o que resta de mais admirável

Escritos matinais me incomodam...
Mas é preciso aprender a não temer a chuva
As tristezas nos rondam
São estados de sítio
Muitos encontros por mim já passaram
E com isso aprendi a dar adeus
Você, no teu mais intimido recanto
Sabe que com um pouco mais de esforço tudo isso vai passar
Como o vento passa
E passa
E ficarei contigo novamente sob a chuva
E colorido com as detalhes do muro
Mas saibam, vocês todos que sempre acompanham meu diário
Existe em mim uma serenidade que hoje me assusta
Até me incomoda
Pois se uma tempestade vier estarei sob ela ereto
Lavado com água ácida
Ensurdecido por trovões
Cego por tantas luzes dançando
Agarrando raios e os lançando de volta aos céus

Sou o que sou
Sou meu
O pouco que me devoram já é muito
Mas tenho uma vida a ser devorada
E vidas para devorar
O predador do mundo
A chama que anima o meu devir
E se minha casa pegar fogo, salvarei o fogo
Só existe Deus quando se doa
E nada mais me impediria de ver o céu
Seu movimento deslizante
E suas mudanças lentas
Que passam do dia para o anoitecer

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Após o diálogo, das muitas lembranças, dos sentimentos e do nevoeiro.

Buscando um ultimo aceno, como aquela despedida cinematográfica eu olhei para trás em busca de você. Mas engraçado, que tua jaqueta azul não era mais possível ser avistada, como se você houvesse evaporado. Era parte da névoa e do ar úmido da noite. Ah meu caro amigo, vejo-te sair amiúde e notei que toda aquela conversa fez seu olhar ser por alguns momentos fragilizado, em outros sincero, alguns instantes buscando alguma verdade. Mas sempre curioso e sincero de atenção. É de grande parcela em minha existência meu amigo. Medir seria o mesmo que encarar a imensidão das galáxias e de todo esse universo.

Assim, volto para meu caminho e encaro a frieza da rua e o ar opaco, nebuloso e onde só alguns traços de luminosidade clareavam aquele cenário. Os carros não roncavam, as vozes nos bares de nada serviam. Eram diálogos mudos e nem havia trilha sonora.

Caminhei titubeante, enfraquecido e com sintomas de culpa. Escrevi algumas palavras e as enviei para alguém que eu queria compartilhar de prontidão. Falo demais e deixo torpe quem escuta? Ou sou feito de acolhida e assim faço com quem mistérios chaveados voltem a assombrar?

Sou essa vontade de dialogo, de contar, de ouvir e também de ir a fundo, ir ao oco, moribundo e viciado no desejo de sempre saber e conhecer, procurar até achar aquilo que eu não queria ter buscado.

E cada esquina um novo susto, até que me tornei, por um segundo, o sinistro.

Sou dessa forma o Ceifador
Avistado na esquina e que te assusta
Está paralisado agora, homem? Não sou quem tu achavas que eu era.
Mas carrego comigo uma parte do que você mais teme.
Segue teu caminho agora, eu fui somente um susto
E teu susto é assombro e agora profícua necessidade para escrever.

E como não consigo transmitir aqui toda aquela carga
De imagens, sons, roteiros, sonoridades, trilhas sonoras
Como deixo este texto? Com as representações de cada um?
Ou tento criar as nuances do teatro
E esbofetear o que seria o teu real e a tua ficção?
Ficar com aquelas palavras ferozes e agressivas
Inertes ao teste do tempo
Generosas e nascidas de um espaço que não é devoto de putrefação
E além, além do além, são resistências para a Santa Clio e aqueles que oram nos pés dessa musa
Sempre buscando com ela barganha ou sono calmo diante do leito e do seio da serenidade

A mente repleta de armadilhas, todas sedutoras e prodígios da espreita
Aleitam as nossas desconfianças e são reflexo da luzerna diante da genialidade
Derrubemos uma máscara, deixe que a chuva e que a névoa derretam a maquiagem sobre o rosto
Essa diletância assustadora, de experiências irrevogáveis
E que só relato pois devo ter contigo alta credibilidade

A quando tu visita várias bocas e quando conhece a tormenta da boca do lixo
Enxerga cinco presentes e nota que um chora, outro é inquieto
Na sua esquina outro não sabe o que faz, e um outro revoga o cuidado
E você? E eu? Fico inerte sem saber o que faço ali, mas retorno no outro dia
Carregado de lâmina ardente lavada por um choro coroado de manhã

És intruso, aquela face deve te assombrar meu amigo
Mas com o que eu te disse, que ela não mais seja um carrasco
O algoz de todas as tuas noites e de todas as suas passagens ao lar

Levei a ela também uma parcela minha, e hoje sei do meu eu
Seja alma, espírito ou coração, ela carrega agora comigo
E eu carrego dela...
Assim “Não desistas de mim.”
Vocifero um “Jamais”
Mas lhe peço o mesmo em troca
Não cálculo ou racionalizo o que eu sinto para ti
E confio que parcela tua pode dizer o mesmo!

É amorosidade
É carne
É fel
É volúpia
É nervosamente real

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Meu amigo...

Serei aquele que te entregará a bala que falta no tambor do revolver, teu cúmplice na hora da morte.
Farei questão de limpar todo o sangue que irá escorrer por todo o chão e nas faces.
Perto de você o Demônio não é nada, ele não passa de um pobre Diabo.
Na hora da tua escolha terá todo meu apoio.
Concordarei com culpa e vontade de te salvar.
Talvez esse teu dia seja inevitável, mas não irei lamentar, sei que estará tão vivo quanto agora.
Tua morte será a tua nova vida.

domingo, 14 de agosto de 2011

Raiva escarlate diante do pai

Entregue-me suas cinzas
Também seu crânio e deixe-me beber de todos os vinhos
Como se a tua mente ossificada fosse hoje um cálice
Mas era um grande imbecil, como guardo de ti raiva
Tanto ódio que não posso calcular
Minha vontade é de esmurrar tua face e logo em seguida urrar tudo que for possível
Mesmo que isso não seja de meu total prazer
Tua existência em minha vida é composta somente de dois momentos
Em um deles é uma sombra curvada e olho a ti como um servo olha a seu rei
Imitava a você e como já dito certa vez
Em tom Kafkaesco digo:
"Do teu trono, tu regias o mundo"
Com meu tom eu digo:
"Do teu repouso, reina agora com os vermes."

Tenho a tua parcela que mais odeio, arrancaria ela se fosse possível
Como um ser putrefato arranca um braço apodrecido
Fico contente que jaz apodrecido e foi alimento daquelas conhecidas por serem as mais asquerosas criaturas
Trocaria meu sangue, arrancaria a minha face, usarei máscara de órfão
Sou aquilo de mais odiado
Salivo com a raiva e como gosto disso
Um doente sabendo da loucura e não deseja  o tratamento

Comemorem o dia dos pais, com seus pais.
Tão humanos, amam vocês mesmo sem saber o que é o amor, abraçam a cada um de vocês quando sentem saudades dos filhos, fazem o impossível para cultivar suas crias, quando enxergam o perigo seriam capazes de arriscar a própria vida para salvar a de seus filhos. Pagam o que seria supostamente caro demais só por um filho, querem sempre seus resquícios genéticos ao lado, pois eles dizem e sabem que amam aqueles a quem deram origem. Levam vocês aos mais variados locais.

São pais aqueles que na calada da noite, quando a ultima respiração da casa e os batimentos cardíacos  ficam por fim serenos, desejam no seu intimo, estarem sozinhos e desprezam aqueles que deram origem e com quem vive juntos. Tem vontade de escapar e ficar a espreita de nada. Aqueles pais que vendem seus filhos no mercado negro ou que jogam filhos em latas de lixo. Aqueles pais molestadores, outros que chegam tarde em casa e não se importam com o sono do filho que acaba sendo roubado pela preocupação.

Admirem eles em suas totalidades (?), pois são tão humanos quanto cada um de nós e talvez um dia tu venhas a ser pai ou mãe e será hora de vestir nova máscara. Mas também será possível encontrar uma nova forma de amor.

De meu pai? Bem, contei pouco sobre ele até agora e por isso mesmo ira ficar.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Uma vez me disseram...

"É impossível ser ateu, aquele que acredita no "Nada", não pode acreditar em algo, logo é impossível ser ateu. A crença no nada é inadmissível. "

Mas hoje penso, se após Deus criar o universo e dar origem a tudo, consequentemente ele também criou o nada, sendo assim, como é possível ainda acreditar nele, sendo ele também o nada?
E mesmo que houvesse o nada e disso fosse criado tudo. Do nada tal criador é cria.

Se for para argumentar logicamente feito um idiota, que assim seja. Vamos dar as mãos e saudar toda a idiotice que é própria e aquela que também é refletida.

Mas aviso que não sou ateu. Eu teria de ser muito estúpido para dizer que não acredito em Deus.
Mas aviso que não sou o oposto do ateu. Eu haveria de ser muito idiota para dizer que acredito em Deus.
Pobre coitado daquele que tem a necessidade de expor sempre o que escreve, de seu livro publicado ou das visitas em sua página pessoal. A síndrome de se achar um gênio e de divulgar constantemente tudo o que está lendo, escrevendo ou fazendo é próprio daqueles que de alguma forma se acham célebres. Pois, ser célebre e ser imbecil é algo muito fácil de ser alcançado, são duas coisas que andam muito bem juntas.
Cuidado com a vida, ela é muito vadia.
Na primeira chance ela goza e dá um tapa na sua cara.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

1º ato das experimentações


(Muitos sons vem de algum local que lembra um corredor, passos apressados, tosses, vozes inaudíveis, risos parcos e alguns soluços distantes)



O Médico :
Qual o nome dele?


A Mãe :
Oh, ainda não havia pensando, nem ao menos sei qual o seu sexo.


(Ela deixa o rosto franzido em sinal de duvida por usar a palavra sexo, quando pensara em varias outras que supostamente se encaixariam melhor e deixa escapar um suspiro de quem está exausto)


O Médico:
Sabe que isso é importante, como ele poderá ficar rolando pedras morros acima?

A Mãe :
Mais absurdo que escolher um nome ou ditar qual a relação que irá ter... É muito cedo para as regras não?


( A mãe olha para um canto e com a cabeça baixa continua)


A Mãe :
Talvez você tenha razão, meu filho terá um nome e será mais que admirado como meu clone. Será meu resquício anamórfico... Oh criança, dou lhe uma máscara e cubro teu rosto já mascarado, mas, que esse mundo absurdo lhe indique onde sempre buscar novas faces dentro desse nosso infinito arsenal.


(Um som parecido com uma pequena explosão vem rompendo de algum canto daquele local onde estão os personagens  e enquanto as cortinas vão sendo fechadas lentamente, o médico fala olhando para fora do palco)


O Médico :
Será que fui correto em todo esse diálogo? Minha dicção foi correta? Prefiro acreditar que criei algumas palavras novas, essa é a maior escapatória dos indecisos e daqueles que se dizem artistas.


(Com as cortinas já fechadas, é possível ouvir uma sonora gargalhada do médico).

domingo, 7 de agosto de 2011








There's my church, I sing in the choir...

Manias malditas

Que mania maldita é essa de contar tudo, relatar, delatar, precisar de testemunhas para tudo que passa e também não passa dentro do poeta, do cronista, do cantor, do compositor, do escritor, do escultor e de tantos outros?

Uma barganha com o Diabo e também com Deus.
Mas não digo com desdém, com ares de repreensão, buscas de súplica ou negação. De maneira alguma.

(haha)

Desejo que essas necessidades continuem e tragam beleza aos nossos sentidos, as nossas reações quimicas, desejos, pensamentos, ou seja, à vida.
Assim será sempre um prazer dizer e poder perceber que só continuam vivos os textos repletos de ferocidade.

Texto da traição

A principal tragédia do suicida, é que o suicídio nunca acontece, a morte nunca o apanha.
Repleto das aflições e com suas crias devotadas para o mundo, o aflito precisa que ouçam e saibam ouvir suas aflições, suas palavras amarguradas, seus sorrisos inseguros e quando ele nota peculiar beleza naquilo que normalmente dizem ser belo, mas onde ele extrai mais, muito mais do que podia ser eternamente o mesmo, provavelmente ter sempre o mesmo sentido.

Enquanto busca o conflito, o que encontra é calmaria. Só é calmo no tédio ou quando busca uma saída, pois é nesse momento, que afunda-se a face no leito.
Prazer estranho naquele conflito, desmedido e explosivo. Céus, como tudo isso conseguiu ser velado se era óbvio que o prazer a tanto buscado era fruto dos incômodos que eram sempre evitados?
De fervoroso arsenal performático, face escondida atrás de face, só uma era utilizada. Aquela face macia, tenra, de fácil trato e simples de ser modelada.
O erro talvez tenha sido o excesso daquilo que todos almejam um dia.

Acabo de trair minha necessidade. O que eu mais queria agora era escrever, mas não consigo encaixar as palavras. Da mesma forma que o pensamento é conflitante, deixo aqui palavras conflituosas. Uma turbulência  para o autor, para quem as desdenha, quem as observa ou quem consegue entender.

Pietà

"Não, você fez do perigo sua profissão, coisa que não é para ser desprezada". Dito isso ele mesmo trata de sepultá-lo com suas próprias mãos.

Trecho de "Assim falou Zaratustra."

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Carta suicida

Se não estou enganado, essa é uma carta utilizada em algum trabalho acadêmico. Não lembro bem onde encontrei , mas são palavras que, desde o instante que eu li, nunca mais consegui esquecer...

A felicidade, a volúpia quando é encontrada no meio do estertor.
Quer ser o famoso todo? De alguma forma, já és.
A serenidade diante do fim absoluto.
Não declaro minha morte, a aniquilação da minha consciência, pois ao saber que posso morrer quando eu quero, controlo a morte e não temo mais a ela. Tal ceifadora passa também a temer a mim.
De qualquer modo, vamos a carta:


Sexo, Idade : F, 27
Cor : (descendente de orientais)
Meio : projétil de arma de fogo
Forma de mensagem : carta manuscrita a tinta azul


"A quem possa interessar:
Grande parte do que possuía foi vendida ou doada. O que resta, é minha vontade que seja entregue ao meu amigo João; o qual poderá dar a meus pertences o destino que lhe aprouver.

Nada deverá ser entregue a qualquer parente meu.

Quanto aos meus restos mortais, suplico encarecidamente; não o torturem com choros, rezas ou velas. É apenas a minha matéria e imploro que a deixem degradando-se em paz. A putrefação não é degradante. Se a humanidade permitisse que a natureza tomasse o seu curso, seria o renascimento da matéria.
Eu renasceria no vento que passa a murmurar, nas folhas que farfalham, no solo que abriga e alimenta milhares de seres vivos, na água que corre para o mar nas chuvas que regam os campos, no orvalho que cintila ao luar, nas grandes árvores que abrigam ninhos de passarinhos e que vergam a passagem dos ventos fortes, nos pequenos arbustos que escondem a caça do caçador...

Céus! Eu me vingaria se apenas uma de minhas partículas participasse do desabrochar de uma flor ou do canto de um pássaro. Romântico? Não! Foi o mundo, minha família, meu educador mas principalmente... foi o seio que aconchegou a criança que vinha lhe contar as suas tristezas, mágoas, alegrias, pensamentos, e seus desejos íntimos... suas esperanças. A criança crescida quer voltar para lhe contar seus sofrimentos, desilusões, a morte de suas esperanças... para encontrar novamente o aconchego onde poderá descansar sua cabeça cansada e abatida e onde poderá, enfim, chorar as suas lágrimas que não encontram onde chorar.

Volto derrotada porque não fui capaz de viver, trabalhar e estudar não foram suficientes para mim. E foi tudo o que me restou. Prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim.
Perdoem-me...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Eu olho para... os pequenos... cristais no asfalto... E os pássaros... simplesmente não param... enquanto eu estou retalhado...

como posso continuar... a ouvir eles quando... nada consigo mais sentir... muito do que eu vivia...

Tenho de pensar rápido em um único esforço ficar sem folego agora tentar viver tudo que não puder viver falar tudo que vier na minha cabeça desde nomes filmes músicas raios luminosos sons que já escutei o sabor de hortelã o gosto das ameixas a textura do morango onde já me escondi os cortes que já sofri as tristezas que senti a solidão que rasguei os valores que eu cuspi aqueles que eu desprezei outros que eu escolhi trazer os inimigos amigos e meus inimigos que corriam em cada batimento cardíaco e respiração que eu tinha e lembro do meu folego... Eu não deveria ter lembrado do respirar  Difícil inspirar... Só fico sufocado quando lembro o que é o sufoco

Esforço em vão... Mas finalmente senti a vida naquela dita... Totalidade... E aqui estou perto de outro passo... Irei viver ao não mais viver... sentimento que não irei pensar... pensamento que não sentir...

Frio... como argila... do pó eu vim... o pó eu morderei... pó eu fui e pó eu sempre serei.

E no préstito sou herói.