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terça-feira, 27 de março de 2012


O pai nosso nos abandonou,
A Ave Maria é monótona,
A caridade um mau espirito
Só restou a feroz batalha terrestre
Sangrenta e nobre como a dos espíritos.
Tenho um apetite pela fome
Não sou fantasma ou alma
Passo rápido como sombra ou espectro.
Alguns minutos atrás, enquanto eu estava saindo do bloco B da UEPG um homem estava diante da porta falando alto, dizendo que os vícios do céu estavam agora na Terra, que era vegetariano a mais de 40 anos...

Em meio a felicidade que senti ao ouvir ele contar isso, acabei agindo como um bom cidadão e da forma mais comum possível e ignorei o homem.

Engraçado que durante todo o caminho de volta, em uma mistura de culpa e orgulho, na minha cabeça uma frase soava como o som pesado de um sino que dobra para anunciar as horas:

"A honestidade de mendigar, me aflige."

Rimbaud

Senti o dessabor da liberdade. Notei novamente (ou viajei esquizo?) o quanto escravo sou, enquanto liberto. Não tive os tostões da coragem para falar com aquele homem. Não consegui entende-lo. Fiquei exasperado.

"A honestidade de mendigar, me aflige."
"A honradez da da mendicidade exaspera-me"
"L'honnêteté de la mendicité me navre."

E como no poema de Hans Magnus Enzenberge, Hotel Fraternité:

"Meu inimigo
Debruçado sobre o balcão
Na cama em cima do armário
No chão por toda parte
Agachado
Olhos fixos em mim
Meu irmão"
Sou escravo enquanto liberto.

Meu inimigo


O que havia começado,
Como um pequeno exercício,
Hoje me faz de condenado,
Pois acabou se tornando um pesado ofício

Em uma das mãos carrego desesperos.
Na outra sufoco as tristezas.
Mas quando olho bem,
Vejo o quanto de vida e felicidade há em nelas.