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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Prece colérica

Mas que direito tem você de falar da vida do outro?
E de eu falar por tu falar?
Vermes mesquinhos e medíocres
Com necessidade de ouvidos
Dessas lacunas em universos sonoros
E de uma vontade regurgitante em contar
Estraçalhar e cuspir um desejo pútrido de mal dizer
Essas vastidões miseráveis escarradas por mal gosto

Quanto custa essa empatia?
Dar ouvidos então a vozes que agonizam param serem ditas
Um laço que morre na quase degustação de certa carne
E na falta de admiração nos contidos e nos preocupados
Nos receosos e nos irmãos da precaução
Abre essa boca desgraçada por quais motivos?
És tão vazio e maldito que faz dejetos prolixos?
Tão próximo quanto um inimigo
Espiões da intimidade e um carrasco companheiro
Que acaba agindo de forma clandestina e velada
Um executor demoníaco que presta também a cavar um sepulcro
Acende velas em um ato dissimulado querendo prestar atenção
E enganar a intima ingenuidade

Pois bem, me diga agora meu senhor
D(d)eus criador e tão criatura
O que faz agora?
Não sejas vapor ou então vácuo
Destruídos e esganiçados
Arfando enquanto esticam os dedos atras da existência
Mãos abertas para a mendicância
O que trazem aqui essas bocas desgraçadamente falantes
Mas tão famintas que precisam comer dos próprios dentes
E beber do próprio sumo, lamber o sangue egoísta
Retalham a traqueia ao engolir rispidamente cacos de vidro
Batalham por um dia extra, um dia por vez
A dolorosa decisão se é viver e ver outro dia nascer
Ou deixar-se levar, abandonar uma consciência e
Deixar aqui navegando por oceanos tempestuosos
Ou que cessam uma suposta energia inesgotável

Corroendo meus ossos, esmagando o cultivo de uma não juizado
Longe de púlpito, padre e anfitrião
Derramando com uma taça feita de um crânio
Frio como argila, mas tão mole quanto barro
Não existe por vezes – nesse circuito vasto de vil contradição – um desejo
Cortejo de sentimentos comuns que supostamente deveriam sentir pena ou dó
E por onde se espera uma continuidade e que deveria estar em retículo humanizante
Comentários repugnantes que parecem tentar carecer de punjância
Mastigam armísticios e explodem faces diante e também escondidas de uma culatra

Com mãos inebriadas da forma que mais interessar a quem ler e ver
Hediondas passagens de meus vetores cotidianos e dos devires
Quais é necessário suportar e também espreitar

Volto a me perguntar como existe coragem no mundo em dizer
Atropelar e meditar sobre os contornos das ondas compridas
Que torpor útil visando elevar a existência e o fétido espirito de alguns
Embriagado e iludido por um caos sonolento, iludido por descansar vou indo
Reconstruir energias, coroado por papoulas e refocilar-me-ei para uma nova eternidade
E aquilo que me tornou áspero, grosseiro e exasperado, por agora
Permite-me deitar intacto
Retornarei repetidamente diferente
E como eu já havia dito uma vez
Deixo aqui com vocês páginas do caderno de minha vida
Página esta que tentei criar por vários dias
Um acumulo, uma soma
Hoje uma prece colérica