Páginas

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Páginas

O melhor, mais elaborado e o mais desdenhado personagem era o "Nada".
Que Camus tinha de temer?

Sobre mim, só resta dizer
Ladrões, profissionais e uivos noturnos
Só conheceram uma parcela do que sou
Nem só as minhas palavras são invólucros intransponíveis
Mas do livro que eu sou
Eu sou...
Páginas em branco
Páginas para serem escritas
Páginas que para muitos passam desconhecidas
Páginas que nem mesmo eu sei que existem
Páginas que ninguém ira conhecer
Páginas impossíveis de ler
Paginas que eu mesmo escrevo
Páginas que eu arranco
Páginas que eu deixo pela metade
Páginas que eu vejo e procuro esconder
Páginas e mais páginas
Páginas que me incomodam durante a manhã
Páginas que eu não queria escrever
Páginas que eu não queria ler
Páginas que eu vasculho
Páginas que desejo ler
Ilegíveis
Chaveadas
Belas
Austeras mas com alguns ornamentos
Intermináveis
Encontros
Obras de arte
Obras minhas
Obras de (d)Deus
Obras atrás de obras
Obras da natureza
Obras da noite
Obras do clichê
Obras suas
Obras minhas
Dobras


Mas basta ter a chave certa
Mas nunca terão a chave mestra
Essa eu perdi logo que nasci
A primavera vem nascendo
Chuvosa
Mas a chuva não assusta agora
Ela lava as lâminas, as faces, o solo
Alimenta a vida, tem coisas boas
Mas a chuva precisa cair
É posse doentia
É controle e medo de perder
Pois quando passar
Serei impulso e impulsionado
Propulsão como sempre acontece
A ira e a felicidade ladeiam
A tristeza e a impetuosidade são sítio
E saboreio tudo isso

Tudo que fiz e ainda faço foi para não cair na loucura
Você sempre me disse :
"Você não deve enlouquecer."
Mas a platéia espera sempre algo
Platéia com casa lotada
Platéia com um(a) único(a) espectador(a)
Não perder a admiração, jamais
O admirável é o que resta de mais admirável

Escritos matinais me incomodam...
Mas é preciso aprender a não temer a chuva
As tristezas nos rondam
São estados de sítio
Muitos encontros por mim já passaram
E com isso aprendi a dar adeus
Você, no teu mais intimido recanto
Sabe que com um pouco mais de esforço tudo isso vai passar
Como o vento passa
E passa
E ficarei contigo novamente sob a chuva
E colorido com as detalhes do muro
Mas saibam, vocês todos que sempre acompanham meu diário
Existe em mim uma serenidade que hoje me assusta
Até me incomoda
Pois se uma tempestade vier estarei sob ela ereto
Lavado com água ácida
Ensurdecido por trovões
Cego por tantas luzes dançando
Agarrando raios e os lançando de volta aos céus

Sou o que sou
Sou meu
O pouco que me devoram já é muito
Mas tenho uma vida a ser devorada
E vidas para devorar
O predador do mundo
A chama que anima o meu devir
E se minha casa pegar fogo, salvarei o fogo
Só existe Deus quando se doa
E nada mais me impediria de ver o céu
Seu movimento deslizante
E suas mudanças lentas
Que passam do dia para o anoitecer

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