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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Adeus


Se cada lágrima, cada nova manhã que eu acordo em aflição e angústia, cada minuto de tristeza que eu passo, cada respiração que eu acabo tossindo... Se isso, e acredito no que irei escrever agora, forem formas também de sorrir, de ser alegre e feliz por um momento, de ouvir uma música e encontrar-se nela, de escutar o sapatear de uma criança e sorrir, de ver um pássaro aprender a voar e compreender toda aquela paciência. Se ao compreender que para ter um segundo de felicidade, um momento de alegria, um dia de serenidade, esses estados de alma tão perenes e rápidos, seja preciso que eu tenha uma hora de tristeza, uma manhã de pranto ou uma conversa com o desabafo de um amigo, então que eu seja aflito e triste, pois só assim, quando a felicidade vier ao meu encontro, eu conseguirei abraça-la com toda a minha força e meu desejo. Naquele momento o melhor é conseguir ser expressionista e notar o som ardiloso do gotejar sobre uma pequena porção de água, ver de quantas formas é possível passear com a mão sobre uma parede ou tentar entender o conforto que existe quando vamos na casa de algumas pessoas.

Se tudo isso for também uma forma de presenciar a vida em uma das suas possíveis totalidades, se isso não for uma simples barganha que eu criei. Talvez por isso Rilke, Kafka, Rimbaud, Osho, Cioran, Verlaine, Byron, Bukowski, Corey Taylor (Sim, porque não?), Lawrence, Jung, Camus, Nietzsche e tantos outros que nunca ouvimos falar o nome possuíam, possuem e escrevem bem  agora, em algum canto do mundo obras tão belas, pois eles carregavam e carregam suas vidas ao limite, criavam obras de arte daquilo que parecia improvável e pouco óbvio, pois quando sente-se mal, a primeira coisa a ser feita é extirpar um sentimento ruim e tudo aquilo que é removido de forma abrupta deixa alguns nacos lá de onde foi retirado.

E se você acredita que eu quero parecer um coitado, se eu quero a piedade de alguns, saibam que sinto-me bem. Meus bolsos estão abarrotados das minhas tristezas e das tristezas daqueles que eu já fui em socorro, que eu já tive de usar palavras para um certo momento, o que me cabe agora é tentar o mais difícil, é usar comigo muito do que eu falei para ser feito. Essas formas antinômicas de existir, essas dualidades existenciais que sempre se busca evitar, uma psicologia de fundo de quintal que busca separar a razão do sentimento sendo que ambos são entrelaçados ao limite.
Quanto menos você se permite sentir aquilo que você pode sentir, mais sufocado e amortalhado o corpo se torna...
Mas eu sempre fiquei contente em saber que alguém precisava ouvir algo do que tenho a dizer, que queria ouvir dos meus sonoros suspiros.

As passagens, as mudanças, os encontros e as intensidades que muitos buscam, as despedidas alegres, tão difíceis de serem conseguidas essa é a chave da existência, de tentar uma vida serena. De não esperar que o lado de fora seja a peça chave da própria vida. Sim, sintam o vento, os relevos das calçadas, a chuva repicar no corpo, uma lágrima escorrer do rosto, esperar nada do mundo, o latido de um cão, as batidas de um coração, a lentidão do amanhecer e a velocidade que passa o dia, de chorar ate o limite como se houvesse um oceano, de amar em varias formas, de sentir uma fúria dentro do corpo, de orar impiedosamente, de crer no Deus que você mais precisar, de fazer bem a quem for, de não deixar que as suas tristezas ou seus rancores sejam descarregados em outra pessoa. Isso tudo é viver, É VIDA. Sim, das mais profundas tristezas as mais explosivas alegrias.

Que essa seja minha última postagem. Que seja para sempre, pois sempre acreditei que uma partida deve ser assim, sem volta, para sempre. Mas caso eu retorne, não fiquem espantados ou pensem que sou feito de contradições, tudo está emaranhado demais nesse universo para conseguir ser no mínimo contraditório. Não pensem que eu traço linhas totalmente retas, aqui eu fixava minhas vertigens, tentava anotar o inexprimível, escrevia minhas noites e os meus silêncios. Proferia minhas paixões, compartilhava meus sorrisos, retribuía os bons pensamentos matinais e as angústias do cotidiano. Relatava daquelas pessoas que entravam na minha vida e dos passeios, caminhadas que eu tinha com cada uma delas. Quando for possível notar que é a hora do partir e assim sentir uma forma de liberdade, nesse momento, será possível dizer que o corpo e a alma estão livres e que podem caminhar para onde for e onde houver vontade. Sendo do universo, ser o Alfa e o Ômega.... Me liberto do blog, mas não dos pensamentos e das palavras.

"Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso."

Somos isso, tudo isso.


Adeus