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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Mas ainda publico aqui, quase tudo o que eu escrevo.

Se achei que iria encontrar um modo de esvaziar o que sentia, encontrei um motivo para abraçar o medo, a infelicidade e a angustia. Fiéis companheiras.

Mas há espaço onde não se penetravam mais certas felicidades e quando surgem tomam conta como luminosos raios, brilhando sobre certos cantos escuros e mostrando o belo que há nas sombras. Isso pois ainda não desenvolvi os olhares para enxergar no escuro, uma vista sem adaptação, fraca e míope, uma vista mediadora, mas que ainda enxerga.

Das páginas do caderno de minha vida, deixo a vocês certos pedaços, migalhas que desejo compartilhar, como pedaços de pão ao alimentarem bocas famintas. Compartilho-as pois as vezes estou farto do meu alimento. Alimente-se de mim ou não. Cuspam fora o que vos escrevo, mastiguem e engulam como desejo de saciedade ou ignorem como tudo que passam por nós cotidianamente.

Por vezes sinto-me malditamente belo, louco, envergonhado e intrometido. Necessidade de aprovação, por mais que nunca caiba julgar aquilo que é escrito do mais intimo, tudo aquilo que somente cada um de nós pode criar. Voltar-se para si mesmo, e assim passar longe aos burburinhos dos outros. Dessa forma, abstenho-me de criticar outros escritos, mas não consigo abster-me de ser criticado.



Mas ainda publico aqui, quase tudo o que eu escrevo.
Cada vez que escrevo é como respirar após emergir de fossas abissais.

Sair de perto de estranhas criaturas que os olhos não conseguem penetrar.

Coroado de desejo em falar. Mas leio o que eu acabo de escrever e falo para cada uma dessas palavras
"Voltem aqui, não vamos mostrar os dentes tão facilmente."
Engraçado que sinto a vontade de dizê-las...

Cada palavra disparada abre espaço para que outras venham em seu lugar.

Quando cada lamento, cada suspiro, sussurro, choro, sorriso, pulsação, beijo, abraço, aperto, angustia, medo, calor, frio, tosse, espirro, suor, paixão, amor, guerra, paz, conflito, discussão e conversa viram palavras, poesia, prosa ou vento abrimos espaço para cada uma dessas coisas ou de outras que não escavamos no momento.

Escravo e algoz da próprias palavras, onde nunca consegui desvencilho delas.