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domingo, 29 de setembro de 2013

Perdão...
Peço antes de tudo que me desculpem. 
Mas devo me adiantar e dizer 
que faço parte de uma horda, 
de um show de horrores 
cujos atores só encenam com mãos atadas
e línguas dobradas...

Bajuladores,
traidores.
Onde estão os roteiros desobedientes?
E os bons atores?
Engraçado dizer, mas eu até apostaria anos antes, 
que um Valldeville seria pouco
e que a Dell-Arte invejaria o improviso...

Sim, seja bem vindo novamente, Rimbaud.
Vejo que carrega o hálito de Verlaine.
Saiba que eu já fui vinho, mas hoje sou vinagre.
Embebi a boca de salvadores quando morriam de sede
E não faço orgulho disto.
Perdoem-me, mas não consigo me enganar.
Para onde eu olho, são todos atores.
Não consigo mais me encantar 
ao mesmo tempo que lamento ter um papel nesse teatro.

De que sirvo? Sirvo para a servidão e a escrita.
Sou artista fracassado cujas letras não impressionam mais
E os acordes nunca emergiram...
Cortaria as orelhas imaginaria ser Van Gogh
mas na surdez seria Beethoven sem talento.

Porém
Na madrugada, nos prodígios da insônia
eu opero pensamentos, sou o maior dos poetas,
escrevo epopeias e épicos, componho brilhantes sinfonias
e torno-me tantos que me perco na multidão.

Encontro-me nos meu sonhos,
Me encontrarei na certeza da morte
e dormirei com a eternidade.