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terça-feira, 5 de julho de 2011

Falando sobre amores

O animal é uma proximidade insuportável. Mas de que forma?
A(ni)m(al)or


Ele encara você de igual para igual. ele desvia o olhar, mas não por fraquejar diante das nossas pupilas, mas para ele não faz sentido encarar, é desnecessário, é uma pesada necessidade de querer provar algo para si. Uma vontade de catalisar as ansiedades, angustias, as ausências e aquilo que sentimos e não sabemos o motivo de sentir. E talvez por isso sejam coisas incomodas. O animal não é puro ou santo, longe disso. Ele tem parte de uma centelha do universo, tal como eu e você. Somos tão animais quanto os animais.


Ele é rebelde e por isso também insuportável. Aquele (mas qual?) animal, não tem a necessidade de ler um poema, graduar-se em uma universidade, amar ou sentir-se amado, publicar em um blog, ficar desesperado por um exame da faculdade ou estar aflito por se deparar com um problema e pensar que não existe solução. Ele não se precipita. Não procura abismos para dançar na beirada.


Ouvir os batimentos cardíacos de outro ser não humano é sempre imensurável. Tentem isso quando possível.  O cão, o gato, ou o pássaro tem um coração e ouvir ele pulsar e sentir-se naquele momento um animal ainda mais animal é uma sensação única. Nunca poderá ser repetida. Você acaba se tornando animal e o animal humano. Ali acaba ocorrendo vivacidade. Aquela chama supostamente débil da existência, que possui uma sombra vacilante cria um estopim e deflagra-se com um estrepito e tudo fica cheio de calor. Luzes e sombras misturam-se em uma pintura gratificante e exuberante. Ali houve amorosidade. Essa é uma liberdade de amar que faz parte daquilo que supostamente não é humano, nem poeta, músico ou filósofo. É uma qualidade incômoda.


Mas existem amores


Naquele momento houve tanto amor, como uma brisa fresca que entra em um quarto e faz dançar de forma graciosa aquelas belas cortinas brancas próximas a porta da varanda. É uma brisa que refresca os lábios, todos os tecidos, a carne, a alma, o espirito e o que mais for possível explicar. É passageiro mas deve ser sentido nas suas maiores formas. O duro é se dar conta que esse amor vai embora. Mas ele vai embora não carregado de tristezas ou que ele deixa um fardo de desespero ou de angustias quando se despede saindo pela mesma janela cortinada. É alegria da passagem e da mudança. As posição das cortinas e aqueles que estavam naquele quarto nunca mais serão os mesmos após aquele suspirar, aquele hálito tão gracioso que é um tão belo aspecto disso que chamamos de universo. É muito difícil viver dos momentos, encarar aqueles pedaços de eternidade sem desejar mais para depois. Cada momento deveria ser encarado como único, sem uma projeção do que irá acontecer depois. Mas ao mesmo tempo tentar pensar que outras intensidades tão maravilhosas como aquelas ainda poderão vir a ocorrer. Intensidade essas que podem ser de outras paragens, relvas, manhãs, pessoas, cidades, praças, moléculas, átomos, cores, sons, imagens, texturas...






Sinto minhas palavras cessarem...






Transfigurado deleito minhas paixões nesse texto e levo cada letra, cada caractere, cada estimulo virtual e elétrico ao olhos de quem é o leitor. Se foi possível sentir algo ao ler tudo aqui, há de ter algum sentido em extrapolar o pensar e ir para o sentir. Sinto em meu corpo e tento transferir. Todas as sensações que pairam ao redor do leitor aproximam-se e colam em sua atmosfera corporal ao ter contato com todas essas palavras...


Sinto agora todos os corações e também todas as suas pulsantes e latejantes liberdades...


Amando a todos os seres humanos, seres vegetais, seres animais, seres humanos-animais. Amando o universo...




Talvez sempre há uma (in)feliz necessidade de voltar e voltar para aquilo que supostamente da prazer, um eterno e lacerante retorno, aquele amor fisiológico, hormonal, biológico e tão superficial. E essa é também outra forma de amor.



É amor.



Porém, o que talvez acontece em minha pessoa talvez seja um amor como uma flor, frágil mas enraizada, que dança sob o Sol e se molha com a chuva, espalha perfumes e partículas ao vento. Nisso vem a noite e essa flor adormece, saboreia um sono calmo e também confuso e não posso fazer nada para impedir o seu descanso. Mas sempre vem o dia seguinte e tal flor, seja ela uma rosa, um lírio, crisântemo ou papoula e a sua vida recomeça. Esse amor fica ávido pelo Sol e caso tivesse olhos suas pálpebras estariam aquecidas ao mesmo tempo que a fina claridade iriar penetrar amealhante não buscando cegar.

Retirar da terra esse amor é separa-lo da sua fonte de vida.  Mas ao mesmo tempo ficar ali enraizado, suportando as intempéries do mundo, é tornar ele mais vigoroso e robusto. É uma flor no meio da relva que espera ser agraciada por olhos astutos e pelos narizes curiosos que estão em busca de trilhar um caminho e que, quando a encontram percebem que ali sempre passa vida. Ambos talvez saem engrandecidos. Seja por conhecer uma nova fragrância ou por conhecer um novo transeunte.

E tal como o vento passa
Passa uma vez
Passa outra