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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

No fundo, toda bosta ja foi uma comida gostosa...


Texto feito em conjunto com a Juliana Baerhttp://www.facebook.com/juhbaer 


Para contextualizar, isso tudo foi escrito em um mural do facebook, onde fomos compartilhando várias ideias e historias comuns a ambos.


Na pequena mesa de um bar...


É uma lógica muito boa e faz bastante sentido. Mas para você ver como a gente que fode. Culpa da digestão que nosso organismo faz hahaha
E você tá muito bukowski ou esses autores lixo que viviam podres no meio fio ou fodidos na calada da noite bebendo uma dose forte de qualquer coisa, maços e mais maços de cigarro e uma caneta escrota sobre um papel molhado pela bebida onde você tenta esconder as maiores perspicácias da mente.

Me sentindo como se fosse uma poeta da segunda geração do romantismo... "Mal do século, boemia e cheia de vícios" vou começar escrever nos guardanapos engordurados, enquanto ainda bebada retiro os fiapos de frango do meu dente... boca podre, fedendo a cigarro, cachaça, risóles nada fresco do bar... paro, reflito um pouco, e peço um aperitivo de ovos de codorna, e continuo a observar, desejar e escrever... vou fazer isso sexta feira... motor breath, aguarde a minha decadência.

Posso aparecer lá então!? Quero ver isso em uma banqueta ao seu lado, com total sobriedade. Os olhos da curiosidade repousam sobre a personificação da decadência. A criatividade ebulindo com os teus sentimentos de ruína.
Eu negaria os pedaços de frango, mas aprecio umas doses de bebida enquanto reclamo do cheiro forte de cigarro que fica impregnado por entre os dedos e na malha barata da camiseta.

O atendente com um olhar não muito amigável serve mais uma dose de bebida naquele copo enquanto a boca da garrafa começa a ficar mergulhada e refratada dentro da textura grossa daquela dose forte que não sabemos se é vodca, cachaça ou o mais puro álcool.
Não importa, cada gole, cada dose e cada palavra são formas de suportar algo muito maior, mais forte e mais pesado do que as presenças no bar ou a ressaca de um dia seguinte.
E, quando voce sentar do meu lado, vou fazer questao que beba... e fique tao bebado quanto eu pra que desenvolvamos a sintonia da alegria forçada... começaremos a rir alto, falar alto e chamar atençao de todos que estiverem dentro daquele lugar... lamberei meus dedos, acenderei um cigarro, escreverei o começo e compartilharei com voce aquele papel imundo, com palavras imundas... Será a sua vez de escrever, o que lhe vier a mente... raivas, ódios, medos, alegrias, surpresas, até obviedades... e quando toda a criatividade se esgotar, ou se alguem interromper e interferir na nossa jogatina poética, lançaremos aquele papel no lixo, e voltaremos a conversar sobre as futilidades da vida, essas que a gente perde parte da vida correndo atras, se humilhando e sendo escravo... Te oferecerei um cigarro, e mesmo voce reclamando do cheiro insuportavel que fica entre os dedos, e da falta de ar que esse veneno te causa, voce vai aceitar... Observaremos a fumaça e os monstros que ela forma, provavelmente será tarde, te darei um longo abraço, e pegarei carona com um desconhecido.

Enquanto eu tomo o primeiro gole e você começa a chamar a atenção, eu acabo por te repreender, meio puto, gosto da discrição e sob a desculpa de ser teu amigo ambos não ficamos chateados com isso. A alegria não parece mais forçada depois de muito álcool.
Por causa de onde estou não conseguirei pensar muito e as únicas anotações que farei no papel serão sobre o local, alguma lembrança, um desgosto e uma raiva retida em torno do meu pai. Após você jogar o papel fora, eu, em segredo vou apanhar ele de novo, com um certo desdém pois ele já está recoberto de cinzas de cigarro, gordura e um pouco do pó que havia no chão. Você olhará para o relógio e dirá que está na hora de partir. Um pouco tomado pelo sono e da bebida eu concordo. Depois de um abraço seu, você pega carona com um desconhecido. Antes de você sair eu te falo para da próxima vez procurarmos um local com mais classe. Uma espelunca com classe. Você vai retrucar dizendo que espeluncas não precisam de classe, eu provavelmente diga que elas tem, mas a gente não nota. Você discorda novamente e ficamos por isso mesmo, a discussão não tem fundamento e levaria a lugar nenhum. Te peço mais um cigarro para acompanhar a volta para casa. Enquanto fumo ele e caminho por entre as acidentadas calçadas e nas pequenas poças que se formaram entre as pedras quebradas e o concreto sujo.Chafurdei nas minhas próprias ideias e notei que elas se tornaram meu maior vicio. As ideias e as palavras me são viciantes. Volto a mim e me dou conta da preocupação em torno da carona que você pegou, mas você é bem grandinha e supostamente deve saber o que faz.Durante o trecho até minha casa vejo algumas putas nas esquina fumando uma pedra de crack, já é fim de noite e a clientela já deve estar em casa para voltar a mais um dia de trabalho, em seus escritórios, cuidado de algum filho, vendendo algum titulo, arquitetando algum projeto. Passo apressado perto delas e evito a troca de olhares. Apalpo os bolsos em busca dos meus pertences; celular, carteira e chaves. Tudo aqui. Tiro as chave e brinco um pouco com elas e com o chaveiro, faço do último um anel no dedo indicador e fico girando-o como se eu tivesse grandes habilidades e me sinto o máximo por isso.

Sempre soube que você adora estar escondido entre a multidão, e que chamar atenção nao faz o seu tipo... Mas há certos momentos na vida de uma mulher, que ela precisa disso... Ser vista e desejada... Ainda mais quando os anos vão passando e seu corpo está com a gordura acumulada de todos os anos, desde que nasceu... Principalmente quando surge aquelas princesinhas mais bonitas que você ja foi um dia... Se chama atenção pelo riso, pelo olhar, pela inteligencia, até mesmo por gargalhadas forçadas... No fundo, sei que faz parte do seu ciuminho 'paternal', dou uma risada interna aprovando a sua repreendida, abaixo o volume da minha vitrola... Observando sempre, aquele rapaz do canto direito, bebendo sua cerveja e esperando a próxima vítima... Nada sei, a respeito do seu pai, você é tao timido e guarda tantos segredos... Não que voce queira fazer o tipo misterioso, mas eu sinto a sua dor, de alguma forma... Eu nao forço, mas começo a imaginar os seus traumas... Imaginar você pequeno, aprendendo a falar, subindo na árvore, a sua primeira descoberta feminina, escondidos em algum comodo da casa de algum parente, provavelmente com alguma prima... Ah, infância... como passamos situações tão semelhantes... paro, e lembro me da minha... Quantos homens já chamei de pai... Paro, e sei que devo parar de pensar sobre isso... Mesmo sabendo que isso é irrelevante na minha vida de hoje, eu sei que o inconsciente não perdoa... Contos de família em uma pocilga de bar?! Tenha dó... Quando percebo, bendita visão periférica, o rapaz que citei, estava me olhando... retribuo o olhar e sem querer faço um sorriso de cachorra... Definitivamente nao sei só trocar olhares... o sorriso cretino é intrínseco nas minhas paqueradas... Me dou conta que ele gostou, observo em cima do balcão... Uma chave e um capacete... Possibilidade de conseguir carona... me animo e tomo mais um gole daquela dose nervosa... olho pra você, e você ainda esta escrevendo... Nao escreveu muito, até porque tudo isso aconteceu em menos de um minuto...
Como o previsto, o rapaz nao se aguenta.

Sou uma das únicas mulheres solteiras e disponíveis no bar, pergunta meu nome, e começamos a conversar... aquele papo bem ridículo, mesclado com a timidez, vergonha e tudo que repreende a nossa fera interior... você já está sacudo, começa a me olhar torto, tento te incluir de todas as formas na nossa conversa... Voce nao aceita, porque nao é burro... Não tem mais idade pra perder tempo com esses papos sem sentido, e completamente desnecessários... voce e eu sabemos qual é o objetivo dele... Conversar e escrever poesia certamente que nao é... Peço licença pro rapaz, ambos olhamos o relógio... te dou o cigarro e um abraço... você segue apé... e eu ganhei uma carona de um completo desconhecido... Fico pensando na loucura que pode parecer... sorrio, e fico feliz por ser louca... Fico feliz por nao ter medo, e confiar nas pessoas intuitivamente... Ele me convida pra ir ao motel, eu já estou muito bebada, e mando me deixar em casa. Quando me dou conta, eu estou em casa, e com ele... Dou alguns beijos pra valer a noite, e, quando sinto que os hormonios começam a esquentar viro pro canto e durmo... Sou egoista e louca... E adoro.

Uma unica coisa, me arrependo da noite, você foi com a intenção de ficar sóbrio e observar a minha decadência... Infelizmente ela tomou conta de voce também... nao sei se é a energia do ambiente, ou se no fundo você também estava precisando disso... pego o telefone pra re ligar, mas tenho certeza que você ainda está dormindo... Nao quero te incomodar... O equilíbrio é algo tão ingrato... voce pode morrer com suas fórmulas de reforma intima, seus segredos de como manter-se lúcido, tomar seus chás de camomila e todos os anti depressivos que você consiga receita... mas quando a vida resolve te derrubar, amigo... prepare-se ou aproveite... percebo que o rapaz foi embora... Nem pude agradecer a carona...