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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A (não) sacanagem que possui compostura.


     Dá meia noite, uma hora, duas horas da manhã e o sino invisível toca. Badaladas surdas que anunciam a passagem da noite. De um sono que eu busco vencer, de forma lascívia, vencer. Ou será que eu simplesmente perdi para uma luxúria romanticamente sacana?

                                        Dóm! Dóm! Dóm!

     Sempre achei esse lance de onomatopeia legal, cafona, mas legal. O que me incomoda é que parece que mata com a criatividade do leitor. Cada um escuta o sino que bem entende. Mas enfim. Noite a dentro e noite afora, o que une é um hálito voluptuoso, de cio mesmo. Seis dias por semana, um dia a menos porque é preciso recuperar as energias ou pelo menos   resguardar algo? Ah, foda-se. Sabe como é, dá-se uma relaxada, ao banheiro, termina-se o serviço e volta a cama. As vezes dolorido, é ansiedade e vontade demais, todo dia, não passa, é só ver um belo par de peitos que tudo começa de novo. É só de escrever que a vontade volta.

     O Goethe em alguma zona de Berlim, o Rilke visitando um bordel em Paris, Bukowski declamando poesia romântica e depois um belo gole de bebida barata com uma puta vontade de sair brigando com o Hemingway (mesmo sem conhecer direito o dito cujo), falar de muita sacanagem com a Simone Beauvoir e especular a Clarice Lispector para saber se a Macabéa gostava ou não gostava daquele quartinho sujo dela. Aquele cantinho lingueta. Pedindo por isso.

     Implorando baixinho, dizendo coisas boas, elogios, libidinosidades e grandes vontades que o receio de não querer mostrar o que se é, simplesmente escondem e são uma propulsão. 

     Assim, só de piração, viagem momentânea, por um triz.
     É que enquanto tomava um banho, entrava por aquela porta de calça justa, peitos em pé e cara marcada pelo tempo e por culpa do Sol :

- Ops, não vi que ai você estava!
- Não tem problema.

     É como o inferno Dantesco, só que de águas gélidas, demônios que foram transladados para a escrita e tem um caráter pérfido, malditos desleais que confundem a suposta nobreza que deveria ser carregada a escrita. Um perfume forte, marcante como uma decepção ou como uma bela passada de língua. Mas não moralize, não pasteurize. Se for para começar a contar, que seja com tudo. Abro uma cerveja e penso em um maço de cigarro. Abriria as pétalas do sexo de forma lenta, as mãos, a boca, a língua. Salivando como um ser bruto, animalesco :

"Oh vós que se propõe, abandonais toda a humanidade."

Dessa pieguice, trecho bem barato é que se faz um pequeno, um naco de relato.