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terça-feira, 26 de julho de 2011

Trechos de uma terça-feira

Qual o motivo para um Deus que em algum momento, por lapso, epifania, bel prazer, sem justificativa aparente ou por simples desejo cria todo um universo e assim (talvez) sujeita todos os seus seres e ao mesmo tempo necessitar da fé de cada um deles?
Ocidental demais e pouco digno de religiosidade esse Deus. Porém, quando se está agarrado a solidão e talvez o tédio seja o único companheiro (sic), a principal saída é criar um universo e se possível soprar vida para aqueles que irão dar sentido a sua própria existência. Genealogia da carência.
É a imagem e semelhança pois tanto quanto eu e você, d(D)eus também tem seus momentos de tédio, solidão e não sabe lidar com eles. Imagem e semelhança pois sempre é possível criar um universo, seja divagando antes do sono, ao tomar um cálice de vinho ou então ao escrever no inicio da noite de terça feira.
Prever o futuro não é uma dádiva, longe disso. A pior das maldições é não ter o sabor do imprevisto e estar ciente das aflições e tristezas futuras.
Prefiro lidar com meu presente e degustar lentamente as minhas felicidades e também as minhas tristezas.
Tolice é fugir de todos os sentimentos que a vida proporciona, já que mesmo encarcerado no Walden ainda não foi possível falar abertamente a máxima : "que ao morrer, descobrir que não havia vivido".
Aqueles personagens utópicos, revolucionários e com faces rotas acabaram por sentar no meio fio da História, sentaram na rabeira do tempo e ficaram de joelhos para o presente. Como fazer porvir aquilo que foi projetado no passado? Como fazer do que passou um imprevisto? Pegar o que não foi vivenciado, já é passado e tentar escrever na incerteza do futuro, esse algoz cujos atos são impossíveis de antecipar.