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sábado, 31 de dezembro de 2011


 Ele chegou em casa com a cara toda arrebentada, estropiado mesmo. Deu sorte de ainda estar com os dentes na boca. Mas a sua face, desfigurada, retorcida e com poucas feições, não por culpa da surra, mas por estar mais apático do que o seu normal. De uma pintura de Rembrandt, seu rosto agora parecia o melhor dentre os rascunhos. E não que o nosso camarada fosse dos mais bonitos, mas é interessante para dar o tom dramático.

- Meu filho, o que houve com você? Já cansei te de dizer para não se meter com esse pessoal lá da praça. São piores que essa marginália que vive no sopé do prédio
- Puta que o pariu. Não me enche, pois se você soubesse o que é o sopé. Não sairia falando por ai o que não se é. Além do mais, de quem é a face? Em quem dói?

Empurrou a velha logo em seguida, como quem espanta a mosca em frente dos olhos. Não que a mulher fosse santa, mas ali, também não era a porca e nem a culpada. Sendo o de sempre, mãe preocupada. Era assim, apanha-se na rua e descontava em casa. Se não conseguia bater em alguém que lhe tirava as cores da cara, era na mãe ou na namorada que vestia-se de macheza e virava um bruto que supostamente amava. A senhora chorando na sala, os prantos rugiam por toda a casa e nosso amigo nem de longe se importava. Bem filho da puta, mas quem nunca foi ou não é?Ouvia os choros e de nada ligava. Tomou em mãos o celular e ligou para aquela moça, toda jeitosa, no alto dos seus 20 anos e que fazia programa como ninguém. Ambos já se conheciam de outras aventuranças, um sabia dos problemas do outro e dessa vez ela atendeu soluçando.

- Hoje não dá. Não é tão simples assim. Cansada, confusa e indignada. Sabe o que é um cara bater em você!?

- Aham. Quer conversar?

- Tá!

Só desligado. Até acharam que iriam conversar por telefone.

Ao menos, depois da conversa, rolava uma trepada, quem sabe de graça, isso, sem pagar nada. Serei um bom ouvinte. Juro, mas a tensão é complicada, não penso só no bom ouvinte. Ah, quer saber? Foda-se. Isso, pro caralho. Levantou-se e foi lavar o rosto, a face ardia como meter a mão em brasa, aqueles cortes ardiam, mas já secavam. Pensando bem, nem fora tudo tão grave, não dá para saber se era só o camarada fazendo tipo ou o autor preocupado...
Bonitinha, sim, ela chegou. Mas normal, nada de mais. Tava meio frio, calça jeans e tênis. Blusinha de lã marrom. Bateu na porta e a mulher antedeu, deu oi pra mãe dele e entrou.
Conversa vai, conversa vem. O sujeito até pensou em terminar com a namorada. Pois é. Se aproxima e dá um beijo na boca, morno e úmido. A língua se faz em mlhares de torçoes. Sabe como é, uma mão na perna, ai ela escorrega devagar entre as coxas.

- Nossa, e eu aqui, com essa calcinha feia.

Pensou naquele instante que isso faz parte pro momento ser excitante, mas logo disparou:

-   E você acha que eu transo preocupado com calcinha?

Ela se riu. O programa para ela, também seria de graça.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A (não) sacanagem que possui compostura.


     Dá meia noite, uma hora, duas horas da manhã e o sino invisível toca. Badaladas surdas que anunciam a passagem da noite. De um sono que eu busco vencer, de forma lascívia, vencer. Ou será que eu simplesmente perdi para uma luxúria romanticamente sacana?

                                        Dóm! Dóm! Dóm!

     Sempre achei esse lance de onomatopeia legal, cafona, mas legal. O que me incomoda é que parece que mata com a criatividade do leitor. Cada um escuta o sino que bem entende. Mas enfim. Noite a dentro e noite afora, o que une é um hálito voluptuoso, de cio mesmo. Seis dias por semana, um dia a menos porque é preciso recuperar as energias ou pelo menos   resguardar algo? Ah, foda-se. Sabe como é, dá-se uma relaxada, ao banheiro, termina-se o serviço e volta a cama. As vezes dolorido, é ansiedade e vontade demais, todo dia, não passa, é só ver um belo par de peitos que tudo começa de novo. É só de escrever que a vontade volta.

     O Goethe em alguma zona de Berlim, o Rilke visitando um bordel em Paris, Bukowski declamando poesia romântica e depois um belo gole de bebida barata com uma puta vontade de sair brigando com o Hemingway (mesmo sem conhecer direito o dito cujo), falar de muita sacanagem com a Simone Beauvoir e especular a Clarice Lispector para saber se a Macabéa gostava ou não gostava daquele quartinho sujo dela. Aquele cantinho lingueta. Pedindo por isso.

     Implorando baixinho, dizendo coisas boas, elogios, libidinosidades e grandes vontades que o receio de não querer mostrar o que se é, simplesmente escondem e são uma propulsão. 

     Assim, só de piração, viagem momentânea, por um triz.
     É que enquanto tomava um banho, entrava por aquela porta de calça justa, peitos em pé e cara marcada pelo tempo e por culpa do Sol :

- Ops, não vi que ai você estava!
- Não tem problema.

     É como o inferno Dantesco, só que de águas gélidas, demônios que foram transladados para a escrita e tem um caráter pérfido, malditos desleais que confundem a suposta nobreza que deveria ser carregada a escrita. Um perfume forte, marcante como uma decepção ou como uma bela passada de língua. Mas não moralize, não pasteurize. Se for para começar a contar, que seja com tudo. Abro uma cerveja e penso em um maço de cigarro. Abriria as pétalas do sexo de forma lenta, as mãos, a boca, a língua. Salivando como um ser bruto, animalesco :

"Oh vós que se propõe, abandonais toda a humanidade."

Dessa pieguice, trecho bem barato é que se faz um pequeno, um naco de relato. 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Somente os já conformados tem preguiça de pensar o porque da conformação. Essas pessoas são as primeiros a apontar o dedo e com uma língua malsã dizer:
- Vejam, um conformista. Não o levem a sério.
Mal percebem que apontam seus dedos para um espelho e que suas línguas vertem uma saliva com odores de seus próprios órgãos.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011



Chegará um dia em que todas, todas as faces nas ruas irão parecer belas, onde todas as pessoas deixarão transparecer uma beleza que de tão sóbria e cansada deixará cada admirador extasiado e tão confuso que vai ser preciso frequentar tantos locais diferentes buscando fixar os pensamentos, os desejos e os medos.

As rugas, as marcas do tempo, os olhares desgastados, as unhas roídas, pés instáveis, cabelo por cortar ou pentear, um óculos torto, uma maquiagem borrada ou um andar irresoluto por culpa da embriaguez... Tudo isso é de uma beleza e de uma sensibilidade, hmmm... Uma beleza rota, isso, belezas rotas.

Tão apaixonantes quanto as faces, corpos bem torneados, peles bronzeadas, felicidades tão efêmeras quanto um Tweet (sim, vamos falar sobre algo do presente), são as tristezas, os sibilos de solidão, os urros de boa noite, as faces assimétricas, a vontade -ou a falta dela- de escrever o que bem entender na internet, no guardanapo, no caderno, em um naco de pacote de pão, Apaixonantes também são os corpos fora de padrões e com detalhes indesejados como um uns quilos extras, um riso e um aceno tímido. Apaixonantes como são as texturas das calçadas, das paredes ou a luz do poste aqui da janela.  Aconchegante também. Saber que todas as pessoas tem seus temores, inseguranças, desejos, expectativas e que por vezes elas também são entediantes, irritantes, angustiadas e com problemas para resolver...

Parece loucura, mas se não der para apreciar, apaixonar, e se entregar a todas essas coisas, eu sinto como perder uma grande parcela do que é a vida e do que seria o viver e eu sentiria como perder quase todo o possível, quase tudo que essa existência me dá. Eu tento fazer algo da única vida (como disse um filosofo e um amigo filosofo). Talvez eu só tenha e só tente aproveitar a minha única unicidade.

Mas que seja, por mais que escreva tudo isso, uma viagem só é feita de si para só.
Essa é um "tiquinho" da minha viagem, e que viagem diga-se de passagem hein haha