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sábado, 18 de setembro de 2010

Cada

Cada palavra é um problema
Cada pensamento uma dor
Cada sentimento uma duvida
Cada momento uma sentença
Cada olhar um corte
Cada animal um desejo
Cada qual
Aqui nesse pequeno momento
Aqui nesse pequeno texto
Aqui nessa dobra idiota
Aqui
Ali

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Torrente adormecida em não ter vergonha de lançar os dados

Você acorda tarde e suado
Deu sorte de não estar figurado
Tarde do dia
Cedo para boêmia

Senta-se tonto
Tremendo do efeito
Do álcool
E do ar agora rarefeito

Pro inferno com a literatura
Dane-se as ordem gramaticais
É tudo um grande foda-se
Caguei até para os autores marginais

Uns morrem em suas camas cagados
Outros caem de janelas
Com suas cabeças em retalhos
E os livros arregaçados

Nunca li Tolstoi ou Shakespeare
Não aguentei Dostoiévski
Já li tanta merda
Mas nunca li o que eu tinha para dizer

Falamos de Gregor's e Alice's
Goethe, Rimbaud e Palahniuk
Tyler's, Henry's e Macabéa's
E para falar de sí, como fica?

Leio, escrevo
“Precedo”, “antecedo”
“Ante tarde”, “Pré noite”
Falando sobre si

Merdas, problemas
Paixões, porres
Musicas, poesias
Ficções e metonímias

Blogs, beijos
Abraços, transas
Cigarros, noites
Sol e livros

Papel queimando
Da unha até a carne
Vão ler o escritor e falar do escritor
Vão pensar no escritor e esquecer do escritor

A vida e a humanidade são enrabações
Um comendo o rabo do outro
Não comendo o meu tá bom
Comendo o do outro tá ótimo

É uma grande formiga, um minusculo elefante
Pedindo, rasgando meu peito para sair
Eu o deixo sair as vezes
Quando sento aqui para escrever e fluir

Escrevo para minhas manhãs
Para minhas noites
Para você e vocês
Escrevo para mim

Suspiro em minhas madrugadas
Tremendo com o frio
Aquecendo com a fogueira de palavras
As vezes deixo esse pequeno ser sair

Ele me assusta, ele me faz feliz
Ele suspira ao olhar para mim
Eu suspiro ao olhar para ela
Ele, ela, você, tu, nós

O que seja

Não sei se é um pássaro azul
Um alter ou um ego
Não sei e nem quero saber
Esse pequeno ser

Um Gato, um Cão
Um Pato ou Rato
Mosquito ou Pássaro
Águia ou Leopardo

Guardo ele agora aqui comigo
Não sei quando volto a escrever
Nem quando volto a tremer
Ele vai adormecendo

Eu voltando
Renascendo
Vou me indo
Sair caminhar

O que não adormece
São minhas paixões
O que não adoece
São os corações

Nunca, hoje
Amanhã, agora
Para sempre
Para tudo

Jogando os dados
Dados na roda da fortuna
Os dados viciados dos deuses
Bem altos e em rodopios

Vá com tudo
Sorrisos de vergonha
Ou lágrimas de alegria
Tente, tente com tudo

Sem medo.

sábado, 4 de setembro de 2010

Gole único no cálice onde não consegue-se dizer que pode ser...

Ao lembrar de Christopher's
E “refletir” sobre McCandless's
Ao escapar das esguias rodovias
E ficar prisioneiro de sua vida

Ao retirar uma maçã da macieira
Tão orgânica, tão vital
A condição torna-se insultante
E o momento decepcionante

Triste Byron
Com seus bosques inexplorados
E os meus cânticos
Por sempre desafinados

Se tu soubesses
Até na mais alta torre
Ou mais densa floresta
Teria companhia

Nossas vaidades nos afastam o tempo todo
Em simplesmente dizer
Intensificar e mover
Que sóis e luas nos tornaram tão próximos

Sonhos de liberdade
Seja ela prisão enquanto condição
Se eram só juventude
Porque a lágrima que arde na minha saúde?

Sem estar preso por estradas ou inibições
Palavras, corações, olhares e lamentações
Desejos, momentos, abraços e intensidades
Cálculos, compaixão, vontade e saciedades

Nesse retorno que somente
restam os pensamentos
Em escassez animal
Em demasia humana

Sem motores históricos, ideias
Teorias, vendas de livros
Cegos pelo céu
E da sombras das árvores

Nascidos sempre em alvoradas
Sob olhares desconfiados
Se não tem seu fim
Buscam a filosofia do amanhã

amanhã
amanhã
amanhã
amanhã

...