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domingo, 26 de fevereiro de 2012

O teto veste 
Uma camisa cor de tempestade
Azul escuro, chumbo anilado
Talvez fica nu de seu algodão

Do céu sem gotas
Seco como a garganta
A pluma cai, dançando sinistramente
Vem e vai
E com ela, outras mil
Tornando o chão grosso travesseiro

Ou então
Um chão colchão
Macio e confortável
Claro e repugnante

Assim um poeta
Além de criador,
Escultor da vida e do pensamento
É antes de mais nada um covarde

Um efémero das felicidades
Um cultivador da tristeza
E só se arma, as vezes herói
Quando empunha uma pena

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Prece para um poeta


 Fui para a guerra, coroado com cicatrizes, machucados, cortes, ferimentos sufocados, o sangue marcava os curativos. É um cão, animal dividido, cortado e com os nervos a mostra. Sofre e cospe tudo que tem de impuro. Não está salvo, o interior é sujo e retorcido. Agora te deita e adormece rodeado das papoulas e reina com o teu próprio sono.

Se me lembro bem, as cápsulas são de veneno, carregam pequenos infernos, doses em oitavas e que regem o coro das reações. Cozinham-me o corpo, os órgãos e marcam o sabor, tatuam na língua um gosto áspero, amargo e que parece ser o trilhar da cura, o préstito para as minhas contaminações.

Assim, me recordo de um sujeito, e como estupefatam suas palavras, folego custoso e que descanso meus olhos, levanto o cenho, admirado e com fundos de inveja. Com os teus 21 anos foi um maior, vencedor e com um triunfo perdido. Foi idolatra dos que havia de desdenhar, foi um baluarte, carregava a bandeira da vil tropa que caminha sobre a Terra. Infante da língua, fez terríveis, sofríveis e maravilhosas experimentações. Fez alquimias, troça e desconcerto com as filosofias, que no Ocidente são desagradáveis e tocantes no Oriente. O que fazem da mente os homens?

Pois bebi das tuas palavras, do teu cerne, absorvi o sangue das entranhas, Roubei teus estilos mas ainda tento compreender as vidas, as criatividades e uma morte prematura, pois foi embora, pequeno, pérfido e ardiloso Rimbaud. O Arthur, maior do que um rei, maior que os reis.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

E se o chão fosse também um teto!?
E porque só nomear as cores,
Com as 26 letras do alfabeto?


E quanto aos sentidos,
De oh, tão completos,
Ainda não dizem
De tudo?

Esse tal de tudo
É tanta coisa!?

Qual o sabor da cor?
E o odor da dor?
Que gosto tem o vermelho?
E qual sabor tem o amarelo?