Para contextualizar, isso tudo foi escrito em um mural do facebook, onde fomos compartilhando várias ideias e historias comuns a ambos.
Na pequena mesa de um bar...
É
uma lógica muito boa e faz bastante sentido. Mas para você ver como
a gente que fode. Culpa da digestão que nosso organismo faz hahaha
E
você tá muito bukowski ou esses autores lixo que viviam podres no
meio fio ou fodidos na calada da noite bebendo uma dose forte de
qualquer coisa, maços e mais maços de cigarro e uma caneta escrota
sobre um papel molhado pela bebida onde você tenta esconder as
maiores perspicácias da mente.
Me
sentindo como se fosse uma poeta da segunda geração do
romantismo... "Mal do século, boemia e cheia de vícios"
vou começar escrever nos guardanapos engordurados, enquanto ainda
bebada retiro os fiapos de frango do meu dente... boca podre, fedendo
a cigarro, cachaça, risóles nada fresco do bar... paro, reflito um
pouco, e peço um aperitivo de ovos de codorna, e continuo a
observar, desejar e escrever... vou fazer isso sexta feira... motor
breath, aguarde a minha decadência.
Posso
aparecer lá então!? Quero ver isso em uma banqueta ao seu lado, com
total sobriedade. Os olhos da curiosidade repousam sobre a
personificação da decadência. A criatividade ebulindo com os teus
sentimentos de ruína.
Eu negaria os pedaços de frango, mas
aprecio umas doses de bebida enquanto reclamo do cheiro forte de
cigarro que fica impregnado por entre os dedos e na malha barata da
camiseta.
O atendente com um olhar não muito amigável serve
mais uma dose de bebida naquele copo enquanto a boca da garrafa
começa a ficar mergulhada e refratada dentro da textura grossa
daquela dose forte que não sabemos se é vodca, cachaça ou o mais
puro álcool.
Não importa, cada gole, cada dose e cada palavra
são formas de suportar algo muito maior, mais forte e mais pesado do
que as presenças no bar ou a ressaca de um dia seguinte.
E,
quando voce sentar do meu lado, vou fazer questao que beba... e fique
tao bebado quanto eu pra que desenvolvamos a sintonia da alegria
forçada... começaremos a rir alto, falar alto e chamar atençao de
todos que estiverem dentro daquele lugar... lamberei meus dedos,
acenderei um cigarro, escreverei o começo e compartilharei com voce
aquele papel imundo, com palavras imundas... Será a sua vez de
escrever, o que lhe vier a mente... raivas, ódios, medos, alegrias,
surpresas, até obviedades... e quando toda a criatividade se
esgotar, ou se alguem interromper e interferir na nossa jogatina
poética, lançaremos aquele papel no lixo, e voltaremos a conversar
sobre as futilidades da vida, essas que a gente perde parte da vida
correndo atras, se humilhando e sendo escravo... Te oferecerei um
cigarro, e mesmo voce reclamando do cheiro insuportavel que fica
entre os dedos, e da falta de ar que esse veneno te causa, voce vai
aceitar... Observaremos a fumaça e os monstros que ela forma,
provavelmente será tarde, te darei um longo abraço, e pegarei
carona com um desconhecido.
Enquanto
eu tomo o primeiro gole e você começa a chamar a atenção, eu
acabo por te repreender, meio puto, gosto da discrição e sob a
desculpa de ser teu amigo ambos não ficamos chateados com isso. A
alegria não parece mais forçada depois de muito álcool.
Por
causa de onde estou não conseguirei pensar muito e as únicas
anotações que farei no papel serão sobre o local, alguma
lembrança, um desgosto e uma raiva retida em torno do meu pai. Após
você jogar o papel fora, eu, em segredo vou apanhar ele de novo, com
um certo desdém pois ele já está recoberto de cinzas de cigarro,
gordura e um pouco do pó que havia no chão. Você olhará para
o relógio e dirá que está na hora de partir. Um pouco tomado pelo
sono e da bebida eu concordo. Depois de um abraço seu, você
pega carona com um desconhecido. Antes de você sair eu te falo
para da próxima vez procurarmos um local com mais classe. Uma
espelunca com classe. Você vai retrucar dizendo que espeluncas não
precisam de classe, eu provavelmente diga que elas tem, mas a gente
não nota. Você discorda novamente e ficamos por isso mesmo, a
discussão não tem fundamento e levaria a lugar nenhum. Te peço
mais um cigarro para acompanhar a volta para casa. Enquanto fumo ele
e caminho por entre as acidentadas calçadas e nas pequenas poças
que se formaram entre as pedras quebradas e o concreto sujo.Chafurdei
nas minhas próprias ideias e notei que elas se tornaram meu maior
vicio. As ideias e as palavras me são viciantes. Volto a mim e me
dou conta da preocupação em torno da carona que você pegou, mas
você é bem grandinha e supostamente deve saber o que faz.Durante o
trecho até minha casa vejo algumas putas nas esquina fumando uma
pedra de crack, já é fim de noite e a clientela já deve estar em
casa para voltar a mais um dia de trabalho, em seus escritórios,
cuidado de algum filho, vendendo algum titulo, arquitetando algum
projeto. Passo apressado perto delas e evito a troca de olhares.
Apalpo os bolsos em busca dos meus pertences; celular, carteira e
chaves. Tudo aqui. Tiro as chave e brinco um pouco com elas e com o
chaveiro, faço do último um anel no dedo indicador e fico girando-o
como se eu tivesse grandes habilidades e me sinto o máximo por isso.
Sempre soube que você adora estar escondido entre a multidão, e
que chamar atenção nao faz o seu tipo... Mas há certos momentos na
vida de uma mulher, que ela precisa disso... Ser vista e desejada...
Ainda mais quando os anos vão passando e seu corpo está com a
gordura acumulada de todos os anos, desde que nasceu...
Principalmente quando surge aquelas princesinhas mais bonitas que
você ja foi um dia... Se chama atenção pelo riso, pelo olhar, pela
inteligencia, até mesmo por gargalhadas forçadas... No fundo, sei
que faz parte do seu ciuminho 'paternal', dou uma risada interna
aprovando a sua repreendida, abaixo o volume da minha vitrola...
Observando sempre, aquele rapaz do canto direito, bebendo sua cerveja
e esperando a próxima vítima... Nada sei, a respeito do seu pai,
você é tao timido e guarda tantos segredos... Não que voce queira
fazer o tipo misterioso, mas eu sinto a sua dor, de alguma forma...
Eu nao forço, mas começo a imaginar os seus traumas... Imaginar
você pequeno, aprendendo a falar, subindo na árvore, a sua primeira
descoberta feminina, escondidos em algum comodo da casa de algum
parente, provavelmente com alguma prima... Ah, infância... como
passamos situações tão semelhantes... paro, e lembro me da
minha... Quantos homens já chamei de pai... Paro, e sei que devo
parar de pensar sobre isso... Mesmo sabendo que isso é irrelevante
na minha vida de hoje, eu sei que o inconsciente não perdoa...
Contos de família em uma pocilga de bar?! Tenha dó... Quando
percebo, bendita visão periférica, o rapaz que citei, estava me
olhando... retribuo o olhar e sem querer faço um sorriso de
cachorra... Definitivamente nao sei só trocar olhares... o sorriso
cretino é intrínseco nas minhas paqueradas... Me dou conta que ele
gostou, observo em cima do balcão... Uma chave e um capacete...
Possibilidade de conseguir carona... me animo e tomo mais um gole
daquela dose nervosa... olho pra você, e você ainda esta
escrevendo... Nao escreveu muito, até porque tudo isso aconteceu em
menos de um minuto...
Como o previsto, o rapaz nao se aguenta.
Sou uma das únicas mulheres solteiras e disponíveis no bar,
pergunta meu nome, e começamos a conversar... aquele papo bem
ridículo, mesclado com a timidez, vergonha e tudo que repreende a
nossa fera interior... você já está sacudo, começa a me olhar
torto, tento te incluir de todas as formas na nossa conversa... Voce
nao aceita, porque nao é burro... Não tem mais idade pra perder
tempo com esses papos sem sentido, e completamente desnecessários...
voce e eu sabemos qual é o objetivo dele... Conversar e escrever
poesia certamente que nao é... Peço licença pro rapaz, ambos
olhamos o relógio... te dou o cigarro e um abraço... você segue
apé... e eu ganhei uma carona de um completo desconhecido... Fico
pensando na loucura que pode parecer... sorrio, e fico feliz por ser
louca... Fico feliz por nao ter medo, e confiar nas pessoas
intuitivamente... Ele me convida pra ir ao motel, eu já estou muito
bebada, e mando me deixar em casa. Quando me dou conta, eu estou em
casa, e com ele... Dou alguns beijos pra valer a noite, e, quando
sinto que os hormonios começam a esquentar viro pro canto e durmo...
Sou egoista e louca... E adoro.
Uma unica coisa, me arrependo da
noite, você foi com a intenção de ficar sóbrio e observar a minha
decadência... Infelizmente ela tomou conta de voce também... nao
sei se é a energia do ambiente, ou se no fundo você também estava
precisando disso... pego o telefone pra re ligar, mas tenho certeza
que você ainda está dormindo... Nao quero te incomodar... O
equilíbrio é algo tão ingrato... voce pode morrer com suas
fórmulas de reforma intima, seus segredos de como manter-se lúcido,
tomar seus chás de camomila e todos os anti depressivos que você
consiga receita... mas quando a vida resolve te derrubar, amigo...
prepare-se ou aproveite... percebo que o rapaz foi embora... Nem pude
agradecer a carona...