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sábado, 22 de outubro de 2011

Filho Prodigo



Quando vieram de seus terras gélidas.
Todos alinhados, com estandartes e vísceras à mostra.
Marcharam de forma canhestra, carregam as bandeiras de vil legião.
Antepassados, ancestrais de mão firme, face alva e carne gelada
Esculpiam disformes e com um tremor, uma ânsia tão grande
Um receio e uma severa vontade de controle
Desejos que são mais fortes que uma fibra de carvalho
Dignos de forjarem um féretro de aço
De mil toneladas e com alças de ouro

De teu desejo jovem e quando faz relato impressionista
Confunde as cores e quando participa do cortejo do intelecto
Feito por milhares dos primatas, símios de fim de escala
Graduações cismáticas e simbólicas dos falsos títulos
Já não sou mais tão confuso
Mas teu verbo ainda consegue me fazer estremecer

Do peso, da cobrança que me faço
Volto a escrever na ociosidade da criatividade
Coço meu dorso e escrevo do regaço
Tossir, cuspir e expelir esse meu filho
E copiosamente copio em tamanha experimentação

Conjurei as almas, os já amortalhados escritores
Rimbaud, Verlaine, Baudelaire e Rilke
Neles eu despejei, os banhei de minha sede pelas escrituras
Temi que minha morte chegasse sem o retorno da vontade poética
E vi que de minha dor, irritação ou aflição
Estardalhaço, contentamento, sorriso e paixão
Continha o segredo, o tiro certeiro
De onde eu mais consigo fazer justificar minha mão

Daquelas alma invocadas, esperei pelas visitas durante a noite
Enxergar as finadas silhuetas e esperar pela inspiração
Por aquele desejo que me indica um destino
Na soleira da porta da sala aquele garoto
As tentações do amigo do garoto, o qual eu nunca vi
E sentado ao pé de minha cama eu vi aquele senhor
Carcaça no colo e adorador da 1 hora da manhã
Em pé ao meu lado, olhando me escrever, aquele homem
Cuja a passagem por Paris tentou fazer merecer
E sobre a minha coroa de xelins e de sonolenta areia
Eu vejo todos os espíritos
As tropas flamejantes dos indianos, dos persas, dos gregos
Frances, alemães e daqueles que por mim passaram
Tento por não ser filho da mendicidade das letras
Muito menos, escravo e mediocremente escritor

Os sussurros não ouvia
Absorto noutro mundo
Pobre diabo, se contia
Troco caricias com a noite
Lascívias sensações com a madrugada
Flertes com as musas e prazerosa reação
Junto de Nix e sua interminável escuridão
E quando rezavam Ave Maria, falava diretamente com Deus
Deitava no travesseiro com a resistência dos deuses
E acreditava que tudo se resolvia com as preces
Hoje, com uma feliz tristeza
Percebe que tudo também se resolve sem elas

Oh temor das insalubridades,
Gosto do lamaçal
Dragões cuspindo fogo e ardendo com as chamas de Marte
Vinde meus amigos, amores de outras vidas
E digam-me de onde consigo tamanha resistência e também
ter o tamanho medo dos rejeitados.
Filhos bastardos, abandonados por genitores
Cristalinas vontades que eu não percebi
Pois meu olhos se faziam esguios para nada ver.
Era uma preservação egoísta e tola
Onde deixei alguns prazeres
Serpentes calamitosas tentando escrever com suas pequenas patas
E duvidosas de onde as pousar assim que terminar

As Flores do Mal
A Temporada no Inferno
Os anjos que adornam a noite
As gárgulas da vigília
Vem ao meu encontro
E tentam a
 todo custo, minhas pálpebras pregar
Como um Cristo dos sonolentos e dos cansados
E ah, em gozo com o retorno desse vicio
Volto de outras formas, com palmilhas esfoladas
Despido e sem todas as joias
Pobre e rejuvenescido
De uma taça de esperança
A boca aberta para os nacos de qualquer coisa
Engasgam de luz
Sentam-se todos surpresos
E julgam aqui, que esse autor é fraco
Quando no minimo é tão forte quanto
Um tolo e contraditório trapo
Metáfora de Atlas e carruagem de Apolo
Volto como o filho prodigo a escrever
A mais consoante nota de uma escala

De negra alvorada
De sono de lavanda
E desejo escarlate
Aceito, agradeço e entrego-me
Ao mundo e a meu destino
Mas não como um veleiro sem comandante
Pois como eu haveria de ficar em terra,
Quando tenho duas enormes asas
Que ansiavam para novamente rasgar minhas vestes
E junto de Ícaro ou Hermes
Caminhar nas ardentes nuvens
Beijar o Sol e cozinhar as antes secas e encruadas bocas
Escreverei sempre e onde eu bem entender
E por quantas vezes eu desejar voltar
E se assim for 
possível
Criar um sabor doce nas inconstâncias
E adocicar o corpo com uma delicia autentica
Que é apreciar as diferenças
Pois semelhanças sempre enxergam os míopes
E aqueles de vistas fracas
A grandiosidade das diferenças, das incompatibilidades
Quando percebida e bem reconhecida
Fixa a vertigem de outrora
E cria vertigens novas
Inicia novos mundos
Novos contatos

Fiz de um espirito ocioso e inconstante
Das incongruências de minha alma
Meu próprio e maior amante
Amo essa própria vida
E traquejo diante do lago
Narciso do cuidado

Por agora, encerro o relato de meu estado
De meu sono, de meu céu e do meu inferno
Por três noites pensei
E só em uma madrugada expurguei
Já deito no meu colo
Uma grande beleza
E por um breve segundo temo o retorno
De alguma triste realeza
Mas que seja, se assim eu sou
Digo como encerram algumas preces
Amém

E assim...
Cumprimento o teu Deus, com o Deus que habita em mim.

Um comentário:

maik disse...

O bom filho à boa casa volta!!!
Cada um é a sua boa casa...
:)