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domingo, 29 de setembro de 2013

Perdão...
Peço antes de tudo que me desculpem. 
Mas devo me adiantar e dizer 
que faço parte de uma horda, 
de um show de horrores 
cujos atores só encenam com mãos atadas
e línguas dobradas...

Bajuladores,
traidores.
Onde estão os roteiros desobedientes?
E os bons atores?
Engraçado dizer, mas eu até apostaria anos antes, 
que um Valldeville seria pouco
e que a Dell-Arte invejaria o improviso...

Sim, seja bem vindo novamente, Rimbaud.
Vejo que carrega o hálito de Verlaine.
Saiba que eu já fui vinho, mas hoje sou vinagre.
Embebi a boca de salvadores quando morriam de sede
E não faço orgulho disto.
Perdoem-me, mas não consigo me enganar.
Para onde eu olho, são todos atores.
Não consigo mais me encantar 
ao mesmo tempo que lamento ter um papel nesse teatro.

De que sirvo? Sirvo para a servidão e a escrita.
Sou artista fracassado cujas letras não impressionam mais
E os acordes nunca emergiram...
Cortaria as orelhas imaginaria ser Van Gogh
mas na surdez seria Beethoven sem talento.

Porém
Na madrugada, nos prodígios da insônia
eu opero pensamentos, sou o maior dos poetas,
escrevo epopeias e épicos, componho brilhantes sinfonias
e torno-me tantos que me perco na multidão.

Encontro-me nos meu sonhos,
Me encontrarei na certeza da morte
e dormirei com a eternidade.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Sobre o que uns diziam ser louco e outros que era só teimosia

Sobre o que uns diziam ser louco e outros que era só teimosia

Quem naquela estrada passava,
sempre encontrava um homem que
por mais alto que fosse o matagal
teimava de encontrar seu caminho,
ali na beirada da estrada.

Alguns o perguntavam:
“O que você ainda faz aqui?”
“Vá seguindo esse caminho já pisoteado, 
pois tem cidade ali em frente. Lá tem cama, comida e água quente.”
E aquele sujeito que para alguns era só mais um coitado, 
louco ou pobre diabo, relutante respondia:
“Não sei, não quero. Minha morada é onde ninguém tem moradia.”
“Não a conforto que conforte a mente. 
E sei que há um caminho fora dessa estrada. Sempre há!”

Caravanas, mercadores, tropas, cortejos, 
viajantes e tudo mais que se pode imaginar.
Por vezes, até a cidade o homem ia, mas ao chegar lá,
percebia uma noite mais fria, faces opacas e uma comida amarga.
Na calada da madruga partia, 
e o sereno mais que um cobertor o acolhia.
Famintos, desabrigados e viciados,
na saída da cidade de tudo se via.

Sua cabeça? Nem gorro aquecia. No caminho,
trocavam um pão, um tijolo e o que mais fosse 
Só por um pouco de sua sabedoria.
E, depois te ser ido ao seu abrigo,
no fim da noite, enquanto o clarão do dia rugia,
voltava a beira da estrada e quem novamente o avistava
Dizia :
“Deve ser só teimosia”.

Pois, junto as pedras com que ficava
Sabia que ao meio delas 
o seu caminho iria pisar.
E assim espera, todo dia.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A vergonha também inibida por forças externas e igualmente medíocres


Quem sou?
Sou eu,
Querendo ser Artaud.
Vencido por tropas e estandartes de preguiça,
De um vazio que só é faminto por si mesmo.
Canibal, neurótico e com neurônios devorando glóbulos.
Vigio-me, torturo-me e dito confuso:
- Sou meu próprio ditador. Sim,sou. Ave!

Calado, na tão falante noite, expurgo.
Êxodo de demônios cujo seu sangue é ódio.
Vertigens. O mundo não para. A noite bate a porta
Exigindo seus minutos de volta. O pior exemplar de minha herança,
Uma vergonha para a espécie, para a família e para o espirito.
Agora sou Rimbaud, e por tantos habitarem em mim, já não consigo ter um eu.
Sou Withman
Sou tantos que pareço desfigurado,tosco, roto e desgranhado.
A minha vergonha e ter de ser o que sou.

Lutei com Aníbal, Napoleão, Bismarck
Na Sibéria, no Golfo 
Nunca lutei como luto contra minha alma
E jamais havia viajado como consigo delirar em mim.

De mediocridade meu coração é cheio.
Sou o santo dos robôs 
E o déspota dos vagabundos.
A intensidade da morte e a tolice de a querer
A essa vida castrada e condenada por neurotizações toscas
Onde a preguiça e o desprazer tem heráldicas atestando sua soberania
Sou o mais baixo dos gauleses
Resta-me a barbárie 



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Só no mau vento,
Longe de folha morta.
Deito na relva com a vida,
Tal folha que a árvore aborta